sábado, 3 de novembro de 2007

Casamento

Hoje fui a um casamento. De uma amiga linda e queridíssima. Pessoa boníssima que também tá esperando um bebezinho que vai chegar daqui a pouco. Um amigo dela falou essa poesia lá. Sem querer ser chata, valeu pelas mil palavras decoradas do padre...

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e
até de olhos vidrados amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o
que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é
sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas
do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o
cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista
em sonho, e uma ave
de rapina.Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma
completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e
na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.


Carlos Drummond de Andrade

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